A Gestora de Projectos do IMD, Elisa Muianga, reagiu à imprensa sobre agressão e assassinato de uma mulher indefesa, nas matas, por um grupo de militares, conforme as imagens que circularam recentemente nas redes sociais, indicando que o acto ocorreu no teatro operacional norte, concretamente em Cabo Delgado.
Falando à margem de mais uma sessão enquadrada no ciclo de debates sobre os 30 anos da democracia multipartidária em Moçambique, Muianga disse que, independentemente do grupo a que pertencem os agressores no vídeo, o acto lesa um dos pilares da democracia, o dos direitos humanos. “O simples facto de nós vermos uma pessoa indefesa a ser torturada e a ser barbaramente assassinada daquela maneira, é mesmo uma questão que nos remete a reflectir sobre os direitos humanos aqui em Moçambique”, afirmou Muianga, que é também gestora da Academia Política da Mulher, unidade de Género no IMD.
No encontro em que se pretendia reflectir sobre o envolvimento das mulheres em processos de reintegração pôs-conflitos armados, a Gestora da Academia Política da Mulher disse que, mais do que violação dos direitos humanos, o vídeo revela também a situação de vulnerabilidade em que as mulheres e crianças estão expostas, em contextos guerra. “É uma mulher indefesa que foi assassinada brutalmente, as tantas nem sabe quais são as motivações daquela guerra. É o caso daquela mulher anónima, mas quantas mulheres não vêm os seus direitos violados.
Quantas mulheres e crianças, perante estes conflitos e guerras, não vêm as suas vidas ceifadas”, questionou a fonte, que considera tratar-se de um problema que remete que se pense muito bem sobre a observância dos direitos humanos em Moçambique, mas também justifica um cada vez maior envolvimento das mulheres em processos de negociação para a Paz e de reintegração pôs-conflito.
Violência armada compromete a democracia
Ainda no mesmo encontro, Elisa Muianga, afirmou que os ataques armados que se registam na província de Cabo Delgado e no centro de Moçambique, ferem com alguns dos princípios da democracia multipartidária, onde se espera que os diferendos sejam dirimidos por vias pacificas. “Sem esta paz e segurança, não podemos de facto concretizar aquilo que é a nossa democracia”, lamentou.
No entendimento da Gestora de Projectos, “todos nós somos chamados agora para estar enfocados nesta questão de insegurança e ataques no centro e o terrorismo no norte”, apelou a interlocutora, para quem deve-se fazer uma combinação entre a via armada e a diplomática para solução do problema.
Falando especificamente dos ataques que têm sido registados na zona centro do país desde os meados de 2019, associados à autoproclamada Junta Militar da Renamo, Elisa Muianga, receia que possam comprometer o processo de desarmamento, desmobilização e reintegração dos homens armados da Renamo. “Aqui na zona centro, é um assunto bastante preocupante (…).
Como é nós podemos garantir que este DDR se efective de facto, se nós estamos perante um conflito, estamos perante esta Junta Militar está de fora (do DDR) (...). Temos ainda uma fração que tem ainda as armas. Significa que a nossa paz está em causa. Esta paz definitiva está em causa, lamentou a fonte, fazendo apelos para que todos prestem atenção e a junta todos esforços no sentido de resolvermos este problema e acabarmos com a guerra no centro.
O ciclo debates no âmbito da celebração dos 30 anos da Democracia Multipartidária em Moçambique é organizado pelo Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos (MJCR) e Instituto para Democracia Multipartidária (IMD) sob o lema “Celebrando a Constituição Multipartidária e Construindo uma Democracia Inclusiva”. Com estas actividade que vão decorrer até o final do mês de novembro pretende-se celebrar os ganhos e desafios decorrentes da implementação dos 30 anos de Democracia Multipartidária em Moçambique, tirar lições, colher contribuições e subsídios para o seu fortalecimento.