O Director Executivo do Instituto para a Democracia Multipartidária(IMD), Hermenegildo Mulhovo, defendeu, na quarta-feira, 17 de Junho, em Marracuene, a necessidade de união de esforços e de se intensificar as mensagens de sensibilização das populações nas zonas rurais que a COVID-19 é um problema de saúde pública e não é apenas um fenómeno urbano como erroneamente alguns segmentos da sociedade consideram.
Intervindo no painel sobre o tema “Implementação das medidas de prevenção da COVID-19 em Moçambique”, na Conferência Científica sobre a COVID-19 em Moçambique organizado pelo Instituto Nacional da Saúde (INS), Mulhovo sublinhou que há uma tendência de elitização desta pandemia nas comunidades rurais e de se alimentar uma errónea percepção de que esta doença apenas atinge zonas urbanas.
“Esta percepção pode de alguma forma por em causa a observação de medidas decretadas no âmbito do Estado de Emergência no país contribuindo para que haja uma contaminação em massa sobretudo nestas zonas”, disse Mulhovo considerando, no entanto que houve mais esforço para o cumprimento das medidas na primeira fase, sendo que no segundo mês com a extensão houve uma espécie de relaxamento.
Segundo o Director Executivo do IMD, os constrangimentos verificados no cumprimento de algumas medidas sobretudo na questão do distanciamento e aglomerados, verificou-se uma grande dificuldade no sector dos transportes e no comércio para o cumprimento das medidas.
“As paragens andam todas abarrotadas de gente a procura dos transportes e nós achamos que a questão de se ter imposto a medida de lotação máxima, tomando em consideração também o nível de procura, fez com que isto piorasse a situação de aglomerações”, disse Mulhovo sublinhando que isso alia-se, igualmente, à própria lotação e tipo de transportes que não oferecem condições essenciais para o distanciamento, sendo que a tentativa de paralisar, causaram, em algumas regiões, convulsões sociais.
No que tange ao uso das máscaras, Mulhovo considera que a introdução de máscaras caseiras melhorou muito o acesso deste meio de prevenção, aliado a obrigatoriedade do uso nos transportes que contribuiu para a sua massificação nos locais públicos e mercados.
“Nos mercados temos reparado que não só temos presença de pessoas que não utilizam a máscara, mas também é frequente o mau uso e muitas das vezes ela é utilizada como cumprimento a uma determinada regra. Não há consciência da importância do seu uso”, avançou o Director Executivo do IMD.
Outra inquietação apresentada durante a intervenção é referente à componente de higienização, considera “muito critico” uma vez que logo no inicio um estudo elaborado pelo IMD constatou que a nível do comércio a questão da divulgação da utilização dos baldes era frequente, “mas neste exacto momento notamos que há um relaxamento e já não se nota muita obrigação por parte dos proprietários dos estabelecimentos ou responsáveis dos mercados, que exigiam que a pessoa lavasse as mãos antes de aceder ao local, para além de que em alguns casos os reservatórios não tem água, se tem água não tem sabão para a pessoa fazer a devida higienização”.
“Agora relativamente a tudo isto as causas que nós apuramos dos nossos estudos é que em primeiro lugar temos limitações de natureza estrutural, exiguidade de transporte que sempre foi um problema em Moçambique, a própria água em que ainda encontramos bairros desprovidos deste precioso liquido e por questões de subsistência”, disse Mulhovo acrescentando que verifica-se que parte das pessoas que se faziam à rua e se expondo à possível contaminação buscavam algo para o auto-sustento.
E comparando entre o sector público e o privado, os que mais saíram são os do sector privado, “onde no nosso pontos de vista não existiu grandes medidas nos sentido de garantir que esse trabalhador pudesse ficar em casa, o que para nós estavam a associar a questão de ficar em casa e a redução do lucro nas empresas”.
Quanto a componente fiscalização, Mulhovo partilhou que nos dois primeiros momentos do Estado de Emergência a fiscalização foi deficitária, contudo na metade deste mês tem sido forte, o que pode ter sido motivado por pressões de diferentes segmentos sociais que assim o exigem.
“Outro problema tem a ver com questões relacionadas com factores-socioculturais. O estudo que fizemos mostrou que logo nos primeiros momentos os cemitérios andavam abarrotados independentemente das medidas de limitação, mas depois com a fiscalização observamos outro fenómeno. Houve controle nos cemitérios, mas as casas dos finados continuaram a ter aglomeração de pessoas”, disse Mulhovo.
Moçambique diagnosticou o primeiro caso de COVID1-19, a 22 de Março, passados três meses o país conta com 638 casos da COVID-19 e também óbitos associados a esta nova doença. Há casos de doença em todas as províncias e o aumento de propagação por semana tem uma tendência inquietante.
Na ocasião, o director-Geral do Instituto Nacional de Saúde, Ilesh Jani, sublinhou que Moçambique e o Mundo estão a lidar com um vírus novo e com uma doença nova. Não obstante, em curto espaço de tempo, desde Dezembro de 2019, ter-se aprendido bastante sobre o novo corona vírus e sobre a COVID-19, fica ainda muito por descobrir.
“Estaremos melhor preparados para responder a esta pandemia quanto mais aprendermos sobre a estrutura e a genética do vírus, os mecanismos de interacção do vírus com os seres humanos, a resposta de defesa do nosso organismo e epidemiologia da infecção os determinantes socioeconómicos da doença e as formas de prevenção e tratamento da infecção”, disse ajuntando que é especialmente mais claro agora que também precisamos de compreender melhor os nossos conhecimentos atitudes, praticas e comportamentos em relação ao novo coronavírus assim como em relação as medidas de prevenção que têm sido decretados.
Segundo Jani, a eficiência da nossa resposta a esta pandemia depende em parte de conhecimentos novos a ser gerado através da investigação científica que inclui parcerias internacionais, “mas deve-se também obrigatoriamente compreender a investigação científica nacional que tem em conta as especificidades meteorológicas, epidemiológicas, sociológicas, sociais, antropológicas, económicas, culturais biológicas e o sistema de saúde de Moçambique”.
“E neste contexto organizamos esta conferência científica que junta vários actores nacionais activos na investigação científica sobre a COVID- 19 em Moçambique, e a conferência constitui uma oportunidade de os investigadores divulgarem resultados das suas pesquisas e discutirem com os seus pares para em conjunto perspectivarmos o futuro”, disse realçando que esta conferência científica e realizada em formato virtual em adaptação ao contexto da pandemia.
A conferência de dois dias (17 e 18 de Junho) resulta da parceria entre o INS com a Televisão de Moçambique, Rádio Moçambique, Jornal Notícias, TMCEL e a MidiaLab. Juntou académicos e instituições de vários ramos que tiveram acções no âmbito da prevenção da COVID-19.