No âmbito do Projecto “PROPAZ – Cultura de Promoção de Paz, Reconciliação e Coesão Social”, o Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD), em parceria com a Universidade Católica de Moçambique (UCM), organizou nesta quarta-feira, 07 de junho, na cidade da Beira, uma reflexão sobre “Mecanismos e Modelos Locais de Promoção de Paz e Reconciliação em Moçambique”.
Na ocasião, a Secretária de Estado da província de Sofala, Stella Zeca destacou a necessidade de não se limitar a responsabilidade de preservar a Paz apenas as lideranças políticas, mas que todos devem colocar a Paz como uma prioridade.
“A Paz não é apenas tarefa do Presidente da República nem do Presidente da RENAMO. É tarefa de todo povo moçambicano, da sociedade civil, religiosos, líderes comunitários, partidos políticos, é tarefa de todos nós. Precisamos que a educação esteja voltada para Paz. É preciso que desde a escola as crianças bebam a cultura da Paz. Vamos educar os nossos jovens e nossas crianças para que aprendam a viver num clima de Paz. As nossas crianças que não nasceram num clima de guerra não precisam viver esta experiência”, disse, acrescentado que “por isso como Governo, ao nível da Província de Sofala temos a Paz, a boa convivência e o respeito como uma forma de estar”.
Segundo Stella Zeca, em Sofala alguns ex-combatentes da RENAMO já estão reintegrados e a participar no sector produtivo, mas reconhece que ainda existem desafios.
“Em Gorongosa temos ex-combatentes da RENAMO a produzir café, em alguns locais estão na piscicultura, outros estão a participar nos programas de alfabetização. Temos procurado envolver os ex-combatentes nas actividades do Governo. Mas reconhecemos que ainda precisamos de fazer mais e iniciativas como estas do IMD vão obviamente ajudar encontrar outras formas de como podemos continuar a aperfeiçoar a nossa Paz e a nossa democracia”.
O encontro tinha como objectivo de refletir sobre mecanismos, modelos e boas práticas para promoção de Paz e reconciliação ao nível da província de Sofala, de modo a influenciar para uma abordagem nacional mais abrangente que tenha em conta as dimensões sociocultural, política e económica.
Neste sentido o Director Executivo do Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD) destacou o facto da assinatura dos acordos de Paz não ter sido suficiente para garantir que o mesmo seja efectivo e que garanta a boa convivência entre os moçambicanos.
“Desde a independência, em 1975, Moçambique tem vivido várias experiências de conflito armado, pontuadas por acordos de Paz.Apesar dos ganhos alcançados pelos sucessivos acordos, nomeadamente, a cessação de fogo e das hostilidades, a introdução do multipartidarismo em 1994 e a realização sistemática das eleições, a implementação da descentralização, Moçambique continua a enfrentar desafios na consolidação do Pluralismo Político, Paz Sustentável e Reconciliação Nacional. Precisamos fazer algo mais e não nos limitar na assinatura de acordos e esperar que seja o suficiente”, disse Alfazema.
Mais adiante, o Director de Programas do IMD destacou que é preciso definir uma agenda nacional de promoção de Paz e Reconciliação.
“Com estas reflexões pretendemos definir um roteiro, uma agenda, um modelo de promoção da Paz que valorize todos os segmentos da sociedade. A Paz em Moçambique ainda está num processo de construção. Ainda há muitos desafios. Falta confiança entre os actores políticos, as pessoas não confiam nas instituições, processos políticos são organizados com pouca transparência, serviços públicos ainda não são acessíveis a todos, ao nível das comunidades ainda há exclusão de pessoas e limitação no acesso aos serviços”.
Segundo Alfazema, o IMD com apoio de outras organizações da sociedade civil e com o financiamento da União Europeia vai ao longo de 3 anos vai trabalhar envolvendo artísticas, professores, alunos, líderes comunitários e religiosos, organizações da sociedade civil, religiosos e ex-combatentes para o desenho de um modelo integrado de promoção da Paz e reconciliação.
Por sua vez, o vice-Reitor da UCM, Armindo Tambo apelou para a necessidade de desenhar um modelo de Paz e Reconciliação que seja inclusivo e que também considere as pessoas afectadas pelos conflitos.
“É preciso buscar soluções pacíficas e duradouras, que garantam a dignidade e os direitos das pessoas afectadas por conflitos. A Paz e a Reconciliação, também, são importantes na vida quotidiana, nas relações interpessoais e na convivência em sociedade. É preciso cultivar resiliência, tolerância, compaixão e o diálogo, em vez de alimentar o ódio, a vingança e a violência”, frisou Tambo.
Este foi o primeiro encontro dos onze que vão decorrer em todo o País, para além de encontros regionais e nacionais que vão juntar autoridades locais, Organizações da Sociedade Civil, Partidos Políticos, académicos, líderes (comunitários e religiosos), artistas, estudantes, entre outros.