No âmbito do encontro com a delegação da Finlândia, jovens políticos moçambicanos sublinharam a importância da participação da juventude nos processos de diálogo e reconciliação nacional, realçando tanto os desafios como as oportunidades que o país enfrenta.
Elves Macamo, jovem político da Frelimo, destacou que a maioria da população moçambicana é constituída por jovens e, por isso, estes têm a responsabilidade e o direito de serem agentes catalisadores de uma reconciliação nacional genuína e duradoura.
Macamo falava nesta terça-feira, dia 30, na capital moçambicana, Maputo, durante uma mesa redonda sobre “O papel dos Jovens na Promoção da Paz e Reconciliação Nacional: Experiências de Moçambique e Finlândia”.
O jovem político entende que os acordos de paz alcançados em Moçambique, desde Roma em 1992 até aos mais recentes, provaram que a paz não se sustenta apenas com o calar das armas, mas sim com a resolução das causas profundas da polarização política e da desigualdade económica.
Na ocasião, Marcelino Bernoso, jovem político do MDM, reforçou a ideia de que a participação da juventude no processo político tem vindo a crescer de forma significativa nos últimos 15 anos.
Bernoso disse que para os riscos que a juventude enfrenta, em especial num contexto marcado pela proliferação das redes sociais e pela chamada “era da pós-verdade”, onde se verifica um espaço de participação por vezes anárquico e de manipulação de jovens, destacou que este envolvimento crescente “deixa-nos felizes, porque mostra que Moçambique é uma responsabilidade de todos nós”.
Por sua vez, Ivan Mazanga, jovem político da Renamo, trouxe uma perspetiva mais crítica sobre os obstáculos à reconciliação nacional, sublinhando que o país “tem dado um passo em frente e três ou quatro para trás”, razão pela qual o tema da reconciliação continua constantemente presente.
Mazanga destacou a existência de “violência estrutural”, resultante da governação diária que em algum momento falha na garantia dos direitos fundamentais.
O jovem da Renamo falou, igualmente, do funcionamento das instituições, mencionando o recente acórdão do Conselho Constitucional relativo à acumulação de funções do Presidente da República enquanto Chefe de Estado e líder partidário, situação que, segundo defendeu, “compromete a imparcialidade das forças de defesa e segurança”.
Mazanga alertou que, enquanto não cessar a violência estrutural e os episódios de repressão contra os cidadãos, o debate sobre paz e reconciliação continuará a repetir-se. “Há que haver seriedade quando falamos da paz, reconciliação e conflito. Caso contrário, voltaremos aqui amanhã, no próximo ano, a falar da mesma coisa”, disse Mazanga.
Saquina Jasse, jovem do recém-criado partido ANAMOLA, entende que é contraditório que os partidos políticos, que são parte do problema do conflito, estejam também a liderar o processo de reconciliação: “por isso, há a necessidade de organismos independentes e imparciais que possam garantir soluções duradouras”.
Saquina Jasse sublinha que a exclusão e a falta de perspectivas tornam os jovens moçambicanos vulneráveis a fenómenos como terrorismo, em Cabo Delgado, ou a práticas de fraude eleitoral, onde, por necessidades imediatas, muitos acabam por aceitar participar em esquemas que comprometem o futuro democrático do país.
“Enquanto não houver um comprometimento institucional e governamental, não estamos a fazer nada, é necessário que os actores que estão no poder entendam que é tempo de mudar”, disse Jasse.
Por sua vez, Ivandro Massingue, que falava em representação do partido PODEMOS, centrou-se na questão do Diálogo Político Inclusivo, sublinhando que, apesar da desconfiança gerada por acordos não cumpridos no passado, “esta é uma oportunidade para reconstruir a esperança”.
“O projecto de diálogo nacional inclusivo é perfeito e pode resolver todos os nossos problemas, mas o desafio é garantir que o que foi acordado seja efectivamente implementado”, afirmou Massingue.
Massingue apontou como prioridades do debate da revisão constitucional visando “a redução dos poderes excessivos do Presidente da República, a verdadeira independência entre os três poderes do Estado e a reforma do pacote eleitoral, defendendo instituições eleitorais independentes”.
Segundo afirma, o povo está cansado, “mas como jovens acreditamos que não podemos desistir. Somos herdeiros irrevogáveis desta nação e futuros governantes. Não podemos abrir mão de nenhuma oportunidade para resolver os problemas de Moçambique”, disse Massingue.
Armando Mahumane, jovem da Nova Democracia, realçou a necessidade de reconhecer que a juventude não é apenas o futuro de Moçambique, mas o presente.
Mahumane destacou que a exclusão histórica da juventude dos processos decisórios levou a manifestações e descontentamento, lembrando que destruir Moçambique entre jovens não é a solução.
Armando sublinhou que os jovens devem assumir responsabilidade ativa, participar em diálogos de Estado e promover a educação cívica, patriotismo e nacionalismo entre as novas gerações.
Mahumane corrobora a ideia de que Diálogo Nacional Inclusivo é um exemplo de oportunidade concreta para os jovens influenciarem o futuro do país, devendo estes aproveitar tais espaços para construir uma visão de Estado a curto, médio e longo prazo.
Ainda nesta senda, um jovem visitante finlandês, representante do partido da oposição naquele país, trouxe uma perspectiva internacional ao debate, destacando que a democracia não se limita aos partidos políticos ou aos políticos, mas também depende da participação da sociedade civil, dos sindicatos e dos jovens.
O jovem sublinhou que, mesmo na Finlândia, menos de 30% do parlamento é composto por jovens, e que a representação juvenil continua a ser um desafio global.
O finlandês enfatizou a importância de criar espaços onde os jovens possam expressar-se livremente, debater políticas, conhecer os seus direitos e assumir responsabilidades cívicas, reforçando que a juventude não é apenas o futuro, é o presente, e deve participar activamente na construção de uma sociedade democrática e inclusiva.
A mesa-redonda foi organizada pelo Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD), através da Academia Democrática da Juventude, em parceria com a Embaixada da Finlândia em Moçambique e a UNICEF Finlândia. Este evento decorre igualmente no âmbito da implementação do projeto Pro-cívicos e Direitos Humanos, financiado pela Embaixada da Finlândia em Moçambique.