Um estudo sobre os contornos da violência xenófoba na África do Sul e suas implicações para os países da região, da autoria de académicos moçambicanos, apresentado durante o simpósio sobre a “reincidência de actos de violência xenófoba na Republica da Africa do Sul: causas, implicações e perspectivas de resposta opara Moçambique”, revela que são principais causas deste fenómeno a politização da imigração, bem como a existência de delinquentes em busca de oportunidades para saquear bens alheios, incluindo de sul-africanos.
Estas são os principais motivos para a existência de actos de violência e xenófobos contudo, “há problemas que os consideramos secundários, nomeadamente a crise económica na RAS (29% desempregados e uma recessão de 3.2% nos primeiros 3 meses); a existência de um grande número de cidadãos Sul-africanos em extrema pobreza, com fácil acesso às drogas e com histórico de criminalidade; os altos índices de criminalidade (roubos, hijacking, assassinatos, violações sexuais, tráfico de drogas) derivada da actuação de gangues com membros oriundos de países vizinhos”, disse o académico e co-autor do estudo Frederico Congolo.
Congolo salientou que dentre outras causas encontram-se, igualmente, os referentes a altos níveis de desigualdades sociais aliados ao analfabetismo por parte dos atacantes (praticantes da violência) e ao crescimento permanente do número de imigrantes ilegais que se encontram na Africa do Sul.
Segundo o pesquisador, a estes pressupostos ajuntam-se, igualmente, vários outros como são os casos da fraca actuação das autoridades em relação a estes actos, o que cria uma sensação de impunidade entre os praticantes.
O estudo, que foi realizado em três países da região austral de Africa nomeadamente, Moçambique, Malawi e Zimbabwe, indica ainda a pobreza agravada nos países vizinhos, as desigualdades sociais, a má governação (Corrupção) como causas para actos de violência naquele país.
“Apesar das fragilidades económicas e crise financeira em que está metida a Africa do Sul, os países da região consideram ainda este país como sendo seu Eldorado”, disse Congolo para quem os povos vizinhos ainda preferem ser desempregados estando na Africa do Sul do que nos seus próprios países.
No entanto, os académicos recomendam, no seu estudo, a necessidade de se manter uma pressão diplomática pública e coordenada com outros países sobre as autoridades de Pretória de modo a imitir um sinal positivo para a opinião pública nacional; exigir, junto das autoridades Sul-Africanas, a responsabilização criminal dos praticantes (morais e materiais) dos ataques; a necessidade de uma discussão, em cimeira extraordinária e urgente da SADC, desta matéria.
É igualmente sua ideia a premência de se contactar permanentemente aos líderes das comunidades de moçambicanos residentes na africa do sul de modo a mostrar a preocupação do Estado Moçambicano para com a sua situação, bem como combater a imigração ilegal de moçambicanos para a aquele pais vizinho e melhorar as opções de subsistência, particularmente dos jovens, para desincentivar a sua imigração para a africa do sul.
Implicações económicas directas de Xenofobia para Moçambique
O Vice-presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), Castigo Nhamane, considerou no simpósio sobre reincidência de actos violentos e Xenófobos na Africa do Sul, que estes actos tiveram um impacto negativo caracterizada pela paralisação dos sectores de transportes de mercadoria e de passageiros, bem como do comércio transfronteiriço, causando um prejuízo médio diário de três milhões de dólares norte-americanos, bem como afectando de cerca de 2000 trabalhadores.
“Os transportadores de semicolectivos com destino a Johannesburg registavam quatro a cinco carros diários que partiam para aquele destino. Entretanto devido a intimidação, o número de partidos reduziu para menos que metade”, disse Nhamane alertando que a continuidade destes actos de violência poderá contribuir para o encerramento de empresas, aumentando desta feita, os níveis de desemprego e contrariando os esforços de erradicação da pobreza nos nossos países.
Para Nhamane, Moçambique, por sua proximidade e relações históricas com a Africa do Sul, tem conhecido índices significativos de comercio bilateral que, em 2018 por exemplo, situou-se em 17 por cento de exportação com destino para o mercado sul africano, e cerca de 26 por cento do total de bens importados, com um fluxo de 14 por cento de investimento directo estrangeiro oriundo da africa do sul.
“Facto de que qualquer sinal de instabilidade socioeconómica na africa do sul, enquanto potencia económica regional e continental, influencia significativamente as nossas economias, principalmente aquelas que tem ligações mais profundas”, sublinhou Nhamane para quem há que se encetar medidas para que estes actos cessem para o bem dos negócios e da economia dos dois países.
O simpósio sobre foi organizado pelo Instituto para a Democracia Multipartidária(IMD) em coordenação com a Universidade Joaquim Chissano (UJC).