Num encontro virtual organizado pelo Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD) e que juntou representantes da sociedade civil, líderes religiosos, académicos e partidos políticos com representação parlamentar, os participantes mostraram preocupação com o facto da Junta Militar se mostrar pouco aberta ao dialogo e por não apresentar com clareza as reivindicações que levam a protagonizar ataques na zona centro do país.
Segundo Osman Cossing, Gestor do IMD, o mais inquietante é que com este “fechamento” da Junta Militar fica difícil perceber as reais razões que levam este grupo a recorrer a ataques armados para a solução dos seus problemas que ainda continuam uma incógnita para os moçambicanos.
“Esta postura da Junta Militar até agora levou ao fracasso todas as tentativas de aproximação e pode contribuir para a exclusão definitiva dos membros deste grupo na integração no processo de DDR cujo término está previsto para Julho de 2021", refere Osman, salientando que isto pode estar por trás do facto de alguns elementos estarem a abandonar o grupo para serem contemplados no DDR.
“O DDR até aqui está a ser aliciante, dada as garantias e condições que estão a ser proporcionadas aos desmobilizados. Este fenómeno vai enfraquecer mais ainda a liderança do Mariano Nhongo caso ele não se abra ao diálogo”.
Em relação as reivindicações da Junta Militar, Osman Cossing refere que não são claras. "É fundamental que a Junta Militar deixe claro as suas reivindicações dentro das possibilidades e parâmetros constitucionais. Para além de ameaçar e condenar a forma como está sendo conduzido o processo DDR, a junta precisa clarificar como considera que este processo devia ser conduzido. Do contrário vai ser difícil dar alguma credibilidade e seriedade ao grupo”.
Para o IMD, o sucesso da condução do dissier DDR, a curto e medido prazos, é fundamental para atrair mais guerrilheiros da Junta Militar, tendo em conta a garantias e condições que estão a ser proporcionadas aos desmobilizados.
“É desejável que a Junta Militar se reconcilie com a Renamo para que possa usufruir das oportunidades, possibilidades e garantias no contexto do DDR”, disse Cossing e acredita que abrindo-se ao processo negocial, ainda é possível de politica e juridicamente se encontrar um possível acordo que não lese Mariano Nhongo e o seu movimento.
É preciso compreender a dinâmica do conflito
- Académico Eduardo Chiziane
Para o académico e jurista Eduardo Chiziane, o elemento visível, neste caso, é o Mariano Nhongo, daí ser necessário compreender a sua personalidade, saber quem ele é, a sua trajectória militar, política, nacionalista e depois compreender os actores eventualmente nacionais e externos que participam desse conflito. "Pode haver necessidade de fazer contacto junto desses outros autores invisíveis, perceber também as partes internas não implicadas no conflito, mas que sofrem os efeitos desse conflito, perceber quais são os sujeitos ou grupos que pretendem ter um papel positivo na sua resolução".
Segundo afirma, há várias organizações interessadas em ajudar na resolução dos ataques militares no centro do país dos quais o Conselho Cristão, Conselho Islâmicos, Conselho das Religiões entre várias figuras de referência que podem trazer ideias positivas para a solução deste problema.
“É preciso, igualmente, identificar-se o objecto do conflito, o que este grupo reivindica, quais são os elementos que estão na origem desse conflito, os interesses específicos que eles têm e o que pretendem negociar, para depois se olhar para aquilo que podem ser as convergências iniciais possíveis”, disse Chiziane que entende que haver alguns pontos de convergência entre as partes em conflito.
Para ele, depois deste processo, deve se fazer-se uma reflexão estratégica sobre o próprio conflito, as estruturas de oportunidade existente para se sair do mesmo. “Por isso é preciso trabalhar muito nas oportunidades para se sair do conflito”, sublinha, defendendo que é preciso fazer tudo para se travar o conflito, não obstante se saber que o mesmo está circunscrito em algum ponto do país.