A Professora de Filosofia na Universidade Pedagógica, Stela Rosa Muianga, defendeu a necessidade de se pensar numa democracia que parta de base, isto é, que esteja assente na nossa interculturalidade, procurando estabelecer uma elisão entre o multipartidarismo e a cultura local.
Para a professora Stela Muianga, é preciso pensarmos em nós a partir de nós mesmos e pensar em modelos que nos levem ao nosso bem-estar e a resolver os nossos problemas.
“Nesse sentido, devemos pensar na desobediência à democracia pensada nos moldes ocidentais senão mesmo a não democracia se quisermos pensar com Wiredu no modelo a-partidário. Quando Wiredu fala de apartidarismo é no sentido de ser contrário a ideia de partidos que tem no centro a ideia básica de maioria democrática”, disse Muianga, sublinhando que ao referir-se a questão do não-partidarismo Wiredu afirma que vão existir grupos diferentes sim, por origem, por diferença de ideias. Mas estes não têm na base a apropriação do poder, mas sublinha aqui a ideia de cooperação e não confrontação.
Para a filósofa, não se confunda aqui com a ideia de partido único. No partido único ninguém perde porque o partido todo ganha. No apartidarismo baseado nas sociedades tradicionais africanas ninguém perde porque há uma partilha natural do poder, ou simplesmente porque não há partidos e há uma participação implícita de todos baseada no diálogo e na intercultura, não há excluídos.
“E mais do que democracia multipartidária, a crítica, o diálogo e a intercultura são condição necessária para uma democracia efectiva que traz no centro a ideia de interpartidarismo. E mais do que interpartidarismo é preciso pensarmos em modelos de governação mais inclusivos e que se fundamentem no africano e talvez na possibilidade do apartidarismo”, sublinhou.
Para a professora, o multipartidarismo devia se reflectir na maior diversidade possível com o fim de se chegar a um consenso mais representativo, de mais grupos com interesses diferentes, oque esta bem descrito mas não se efectiva na prática.
“A Democracia moçambicana é simplesmente formal, mas deficitária na sua implementação. Para que se garanta uma verdadeira democracia, que não seja apenas formal, deve abrir-se mais o espaço para o exercício das liberdades individuais”, explica a professora de Filosofia.
Refira-se que o debate sobre a Diálogo, crítica e interculturalidade em Moçambique foi organizado pelo Instituto para a Democracia Multipartidaria em coordenação com a Ethale Publishing, editora vocacionada na promoção da literatura, cultura e pensamento africano, e tinha como objectivo reflectir sobre o papel do diálogo, da crítica e de Interculturalidade como conceitos a ter em conta para a promoção e consolidação da democracia em Moçambique.
O encontro contou com a participação de diversas personalidades nacionais em representação de diversas instituições académicas nacionais, deputados da Assembleia da República, representantes dos partidos políticos bem como órgãos de comunicação social e membros da sociedade civil.
No encontro, o Professor João Carlos Colaço, da Universidade Eduardo Mondlane, disse que os 30 anos de democracia em Moçambique são caracterizados por diversos desafios que nos rementem a necessidade de uma reflexão sobre a questão de coabitação e pluralidade de ideias não no sentido de todos concordar com todos mas no sentido de partilha de ideias, o que vai tornar o debate não um conflito mas um ponto de encontro de visões diferenciados.
Para o professor Colaço, o multiculturalismo garante o respeito pelas diferenças e uma visão multipolar do poder e “irá reconhecer as diferenças de modo a garantir a expressão das diferentes entidades culturais que existem em Moçambique, bem como garantir espaços em que estas se possam expressar”.
“A Interculturalidade reconhecia a existência de uma visão não mais monolítica do poder, mas multipolar onde há possibilidades de coabitação das respectivas diferenças para a construção de uma sociedade democrática inclusiva”, disse Colaço para quem o triunfo da democracia e multiculturalidade só pode ser realizado se tomarmos em consideração a diversidade cultural e política como um factor central da sociedade moçambicana, e o conflito como algo inerente a ordem democrática.
Colaço explica que é com base nesta diversidade que devem ser permeadas e estruturadas as nossas relações socio-cultuais e políticas, fazendo com que o diálogo e a critica constituam um imperativo para a reconciliação nacional e de coabitação de culturas e visões políticas.