O académico moçambicano e docente universitário, Jaime Guliche, instou aos partidos políticos nacionais a desenharem manifestos eleitorais que possam contribuir para o resgate da confiança do eleitorado, em relação aos partidos políticos, com vista a cativar o cidadão a ser mais participativo e actuante nos processos eleitorais contribuindo, desta forma, para a consolidação democrática no País.
Guliche falava, esta segunda-feira, em Macanete, Distrito de Marracuene, em Maputo, sobre o tema “Manifestos eleitorais e Governação Participativa no actual figurino de eleições de governadores”, tendo salientado que esta medida passa necessariamente pelo desenho de manifestos eleitorais que não sirvam como documentos de gabinete, mas sim fruto de contactos efectuados com as bases, para além de os mesmos que devem ser alternativos e competitivo, evitando-se o mimetismo político.
“É preciso que os partidos políticos aprimorem os seus contactos com as estruturas de base partidária e cidadãos para a sistematização das principais demandas, com vista a produção de um documento mais próximo dessas demandas”, disse Guliche para quem os partidos políticos, a apesar do contexto “tudo para nós”, é necessário de façam a diversificação da abordagem das estratégias de governação.
Na ideia do académico são desafios dos partidos políticos, dentre outros, a apresentação, dos manifestos realísticos e adequados às competências definidas por lei para os níveis de descentralização, por exemplo, “ou seja, os partidos devem ter clareza sobre a legislação para melhor propor suas estratégias de governação”.
“Deve-se elaborar manifestos adequados a cada contexto. Ou seja, deve-se reduzir a carga centralizadora na definição das prioridades para a campanhas políticas e evitar a logica de que uma medida serve para todos os contextos”, salientou Guiliche para quem os partidos políticos devem se capacitar, igualmente, para evitar a personalização dos manifestos e campanhas à figura do candidato, “mas sim tornar os partidos políticos institucionalizados e estáveis a longo prazo”.
O académico entende que os partidos políticos devem ter em conta as principais preocupações das populações na preparação dos manifestos eleitorais que tem a ver, dentre várias, “ com a melhoria na transparência da gestão das contas publicas, a redução de custo de vida, a melhoria da política de habitação para jovens, a melhoria da qualidade de serviços de saúde e qualidade de ensino, bem como a redução da criminalidade.
O encontro de Macaneta é organizado pelo Instituto para a Democracia Multipartidária(IMD) e visa, dentre vários propósitos, contribuir para que os actores políticos estejam mais capacitados na elaboração de manifestos eleitorais para que melhor possam concorrer as eleições gerais de 2019; bem como sensibilizar aos partidos políticos a elaborar manifestos eleitorais exequíveis e que tenham em conta as reais preocupações da população moçambicana.
Na ocasião, representantes dos diversos partidos políticos nacionais parlamentares e extraparlamentares enalteceram a iniciativa do IMD sustentando que esta vai servir para a aproximação cada vez mais dos partidos políticos aos seus eleitores, para além de contribuir para a consolidação da democracia multipartiria no País, mediante a maior participação politica dos moçambicanos nos processos electivos.
Com efeito, o Presidente do Partido Nacional de Moçambique -Centro de Reflexão Democrática (PANAMO-CRD), Marcos Juma, sublinhou que a formação dos partidos políticos em matérias de elaboração de manifestos eleitorais constitui uma mais valia isto porque “muitas vezes os partidos não conseguem apresentar profundamente aquilo que pensam e querem fazer para o povo então o IMD está a capacitar-nos para ver como é que nós devemos apresentar as linhas mestras daquilo que queremos fazer, diferente do que está sendo feito, mas, para o bem do povo”.
“Nós aprendemos e aprendemos sempre e isso vai nos ajudar profundamente. Nos fazíamos manifestos por fazer e de qualquer maneira, mas agora aprendemos que há técnicas próprias que nos vão ajudar neste processo de transmissão das nossas ideias e intenções governativas ao povo”., disse Juma enaltecendo a iniciativa do IMD em formar partidos políticos para aprimorar o seu relacionamento eleitoralista com o povo moçambicano.
Enquanto isso, João Massango do Partido Ecologista, que de facto há uma necessidade fortalecer aquilo que é a visão dos partidos políticos sobretudo para contexto contemporâneo em que o nosso povo tem outra forma de analisar o sistema de governação.
“É preciso aperfeiçoarmo-nos melhor para que nos próximos embates eleitorais entremos com manifestos que possam de facto cativar o eleitor a votar naquilo que acha que é possível para a mudança”, disse Massango sublinhando que para ele não basta que os partidos se formem em melhores técnicas de elaboração dos manifestos eleitorais mas sim é preciso que estejam realmente comprometidos com as preocupações do povo.
Segundo o Presidente do Partido Ecologista, olhando para a conjuntura actual do Pais, se os partidos políticos irem a estes pleitos de forma dispersa não vai trazer nenhuma mudança, “devemos elaborar um manifesto não simplesmente para participar no processo, mas sim um manifesto que possa servir como guião nas próximas processos eleitorais, por isso que nos somos pela união dos partidos políticos para que haja de facto mudanças”.
O Coordenador de Programas do IMD, Dércio Alfazema, sublinhou que esta formação constitui o primeiro momento do envolvimento dos partidos políticos nestas matérias devendo nos próximos dias abranger outros que não poderem, esta vez se fazer presentes.
“Partindo da ideia de que temos eleições, a 15 de Outubro do ano em curso, vimos que era premente a partilha de ideias, conhecimentos e técnicas de elaboração dos manifestos eleitorais e o modo como devem se comunicar com o cidadão, durante a campanha, para que tenham uma apreciação positiva dos seus manifestos”, disse Alfazema sublinhando que saímos de um cenário em que os partidos políticos tinham as suas campanhas eleitorais numa perspectiva de ataque uns aos outros “e nós achamos, como IMD, que precisávamos dar esta formação de por forma a que as campanhas eleitorais sejam orientadas programaticamente, e seja um momento de partilha de ideias e de colocar ao cidadão proposta de governação para que este de per si escolha a melhor que dever servir aos seus anseios”.
A formação dos partidos políticos, que termina esta terça-feira, é ministrada por académicos nacionais os quais deverão debruçar-se, dentre vários temas, sobre os seguintes: “Abordagem dos manifestos eleitorais focada no actual figurino de eleição (governadores)”; “Manifestos Eleitorais e Governação Participativa Vs Contexto da Descentralização”; e “Os manifestos eleitorais numa abordagem de género”.