As participantes da primeira formação sobre a inclusão da mulher na política, promovida pela Academia Política da Mulher, manifestaram, esta quinta-feira, em Nampula, o seu entusiasmo em contribuir para a mudança de paradigma quanto à necessidade da valorização da mulher na arena política, bem como em influenciar e incentivar as lideranças para a sua maior inserção.
De acordo com as participantes para que se atinja este objectivo é premente que haja maior consciencialização das mulheres de que são capazes, têm força e conhecimentos suficientes para ultrapassar os diferentes desafios que se impõe neste processo.
A formação de Nampula tinha dentre vários objectivos dotar as mulheres candidatas a membro das Assembleias Provinciais pelos partidos Frelimo, Renamo e MDM, das províncias de Nampula, Cabo Delgado e Niassa, ferramentas e conhecimentos para um maior empoderamento, participação política, fortalecer a capacidade interventiva durante as próximas fases do processo eleitoral e criar oportunidade de troca de experiências entre as participantes e as mulheres deputadas.
Na ocasião, Otília Ferreira, candidata a Assembleia Provincial de Nampula pelo partido Frelimo, sublinhou que esta capacitação vai contribuir para que a mulher desperte e trabalhe cada vez mais para que a sua participação na vida política seja efectiva e se sinta uma peça fundamental para o desenvolvimento da democracia no país.
“Queremos agradecer a academia Política da Mulher por esta oportunidade de nos despertar sobre as nossas capacidades, como mulheres, de persuadir as nossas lideranças políticas para a valorização e inclusão da mulher na política”, disse Ferreira salientando que apesar de ser um enorme desafio, a união das mulheres, a entrega e o trabalho são ferramentas essenciais para o seu sucesso na vida política.
Por sua vez, Ilda Itelvina, Candidata a Membro da Assembleia Provincial de Cabo Delgado, pelo partido Renamo, sublinhou que a maior participação da mulher na política passa, necessariamente, em as mulheres ultrapassarem os tabus de que elas servem apenas como mães e esposas cujo dever é de cuidar dos maridos e dos lares, “mas sim sabermos que, não obstante estas tarefas, que são fulcrais para o bem da família, é possível concilia-las com a vida politica”.
“Mas também é preciso que as lideranças políticas abram oportunidades para que as mulheres estejam também na liderança”, disse para quem as mulheres devem ser capazes de lutar lado a lado com o homem para que perceba as capacidades de liderança que as mulheres têm em várias vertentes incluindo na política.
A formação das candidatas as Assembleias Provinciais contou com a facilitação de Rosita Alberto, que, falando sobre o tema “Conceitos da democracia e sua importância na sociedade”, sublinhou haver a necessidade de os partidos políticos desenharem politicas de formação sobretudo das mulheres para que estas tenham conhecimentos suficientes sobre o seu trabalho apos serem eleitas para as assembleias provinciais.
“Para além da formação, os partidos devem também apostar na orçamentação de actividades na perspectiva de género, o que pressupõe que todas as actividades a serem desenvolvidas pelos membros do partidos devem ter em conta as especificidade e necessidades das mulheres”, disse Rosita para quem adopção da politica de quotas podem contribuir para que os partidos políticos incluam cada vez mais mulheres nas listas e, por conseguinte, poderem ter oportunidades de se inserirem nas posições de liderança.
Segundo Rosita das várias barreiras que condicionam a participação efectiva da mulher na vida inclui-se a tradição e a cultura que devem ser ultrapassadas pela mulher para que consiga maior liberdade de acção sem, contudo, por em causa a família.
Refira-se que a Academia Política da Mulher é uma plataforma de empoderamento através da capacitação da mulher para a sua participação activa na vida política, explorando espaços e oportunidades com vista a atingir posições de liderança nos partidos políticos, nos órgãos ou instituições democráticas e demais cargos eleitos no país.
De acordo com o Coordenador de Programas do Instituto Para a Democracia Multipartidária (IMD), Dércio Alfazema, esta formação abre o ciclo de formações com vistas a maior inserção da mulher nos próximos pleitos eleitorais, não por ser a maior parte da população nacional, mas também, por ser considerada como parceira no processo de desenvolvimento.
“Percebemos que a nível de Africa e do Mundo, estamos relativamente melhor cotados se compararmos com o outros países, contudo entendemos que mais se pode fazer para haja equilíbrio do género”, disse Alfazema para quem estas acções de capacitação deverão ser também desenvolvidas nas regiões centro e sul do país com vista a contribuirmos para maior consciencialização para a inclusão da mulher nos órgãos democraticamente eleitos.
Segundo Alfazema, da avaliação feita ao nível dos partidos Frelimo, Renamo e MDM no universo de 30 cabeças-de-lista apenas cinco são mulheres e destas apenas quatro é que podem ser eleitas.
“Se fossem eleitas três ou quatro mulheres para cargos de Governador estaríamos na cifra de 30 a 40 por cento, mas mesmo assim abaixo da equidade que almejamos”, disse Alfazema para quem há consciência das limitações da nossa sociedade, uma vez que ainda não está pronta para libertar efectivamente a mulher, encontrando-se barreiras familiares e sociais bem como do sistema patriarcal que domina as nossas culturais.
Para a reversão da situação Alfazema explicou, na ocasião, que o IMD, no âmbito da Academia Política da Mulher, tem estado a interagir com as lideranças políticas com vista a sensibiliza-los para o efeito.
A acção de capacitação de candidatas as assembleias provinciais, tem a duração de dois dias, conta com a participação de 45 participantes provenientes das províncias de Nampula, Niassa e Cabo delgado, identificadas pelos partidos políticos com assento parlamentar.