As candidatas às assembleias provinciais pelos partidos Frelimo, Renamo e MDM, nas províncias de Nampula, Niassa e Cabo Delgado foram, esta sexta-feira, aconselhadas a serem resilientes nas suas actividades e a prepararem-se para enfrentar vários desafios inerentes às suas funções, dos quais a possível desvalorização das suas ideias por apenas serem mulheres.
Este conselho surgiu no segundo dia da acção de capacitação regional de candidatas às assembleias provinciais em matérias de participação politica da mulher, promovida pelo Instituto para a Democracia Multipartidária(IMD) através da Academia Política da Mulher, no âmbito de troca de experiências entre as candidatas e deputadas da Assembleia da República, tendo-se salientado que esses desafios decorrem do facto de a sociedade moçambicana ainda não estar consciente das valiosas capacidades da mulher.
De acordo com a Deputada da Assembleia da República e Membro da Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e de Legalidade, Sílvia Cheia, são enormes os desafios que a mulher parlamentar tem para fazer passar as suas ideias, dos quais a falta de compreensão da mulher, a fragilidade que lhe é característico e a ideia de que somente o homem é capaz de liderar.
“A mulheres devem saber que todos os dias devem mostrar e provar que são capazes uma vez que o mau desempenho de uma mulher se reflecte para todas as mulheres”, disse Cheia para quem a mulher deve saber se impor com trabalho e determinação e responsabilidade nas suas acções.
Para a Deputada, é chegado o momento de todas as mulheres perceberem que podem contribuir para a sua maior inserção e valorização na vida politica e elevar o seu nível de representatividade nos órgãos democraticamente eleitos bastando para isso que a mulher seja unida e livra-se de estereótipos, tradições de tabus que impedem o seu desenvolvimento, para que consiga de facto, trabalhar para o bem da nação.
“Existe uma resistência, mas acredito que chegaremos lá”, disse a Deputada da Assembleia da República, ajuntando que “um trabalho de lobby e advocacia a nível dos partidos políticos a que pertencemos, serviria de ferramenta essencial para que consigamos ultrapassar esses desafios e sermos cada vez mais valorizadas na nossa sociedade”.
Rosita Lubrino, a Presidente da Assembleia Provincial de Manica, a única no Pais, disse por sua vez que a humildade, solidariedade entre as mulheres, tanto na vida política assim como a nível social, a responsabilidade e foco no trabalho são, dentre várias, ferramentas que a mulher deverá usar para que seja mais respeitada no país.
“A mulher tem que ser mais criativa e persistente diante das dificuldades, com vista a alcançar objectivos comuns utilizando todas as alternativas possíveis. A criatividade e um dos factores determinantes para sair de situações difíceis, pois permite-nos encontrar soluções menos óbvias para resolver os diferendos”, disse Lubrino para quem as mulheres normalmente suportam melhor trabalho sob pressão e possuem mais habilidade para lidar com conflitos no ambiente de trabalho, com uma comunicação mais cuidadosa e perceptiva, é possível evitar conflitos eminentes.
Segundo Lubrino, a cultura machista que caracteriza a sociedade moçambicana é um dos principais desafios da liderança da mulher nos dias actuais, para além de que “muitas mulheres são preteridas na hora de uma promoção para um cargo superior simplesmente por não ter um estilo de um líder do sexo masculino.”
“É comum que uma mulher em cargo de liderança sufoque alguma característica dita feminina porque tem medo de ser considerada menos capaz”, explicou a Presidente da Assembleia Provincial de Manica, corroborando da ideia de que apesar do actual crescimento da liderança feminina, “muitas mulheres têm dificuldades para empoderar-se devido a diversos factores, desde culturais, sociais e o desafio da desmitificação do rotulo, que culturalmente são atribuídos a mulher que defendem por exemplo que ela foi promovida porque é bonita.”
Por sua vez, Rosita Alberto, do Fórum Mulher e Facilitadora da capacitação, sugeriu que para se ultrapassar os problemas de desvalorização da mulher na vida política é preciso que se lute para que a Assembleia da República aprove uma Lei de Paridade de Género, que obrigue a todos os partidos políticos a terem quotas que possibilitem a maior inclusão da mulher nas suas listas assim como nos cargos directivos.
Rosita explicou ainda haver necessidade de a Mulher trabalhar em cooperação com os homens como parceiros de desenvolvimento; construírem parcerias de respeito, conhecimento, solidariedade e apoio, entre elas, com outras mulheres e com homens, melhorar a comunicação entre elas, apoiarem-se mutuamente nos trabalhos entre mulheres, ensinarem umas as outras e aprenderem umas das outras.
“É preciso, também, trabalhar muito próximas de organizações e redes de justiça social mais amplas, isto é, organizações e movimentos engajados na promoção dos direitos humanos, protecção do ambiente e relações de trabalho promoção da democracia e paz e resolução de conflitos, bem como construir a capacidade de liderança através de capacitações individuais ou colectivas onde as mulheres são adeptas das mobilizações de acções de advocacia , definir questões apontar problemas e encontrar soluções”, disse a Facilitadora.
Para Rosita Alberto, é importante criar um modelo de liderança que consiste em dar e receber onde cada uma das mulheres é alternadamente líder e seguidora, para além de que as mulheres precisam de ter vozes audíveis usando cada vez mais as tecnologias de informação para o efeito, ferramentas essenciais para o seu maior empoderamento.
A acção de capacitação regional das candidatas a membros das Assembleias Provinciais de Nampula, Cabo delgado e Niassa, pelos partidos Frelimo, Renamo e MDM, terminou esta sexta-feira, tendo ficando assente a sua importância para que as mulheres candidatas adquiram conhecimentos que as possibilitem enfrentar os desafios que as esperam quando forem eleitas como membros das Assembleias Provinciais nas próximas eleições de 15 de Outubro.