Este posicionamento foi assumido no mês de setembro, por ex-guerrilheira da Renamo, Albertina Ofiço no debate sobre o envolvimento das mulheres no processo de DDR, tendo em conta a Resolução 1325, adoptado pelas Nações Unidas em 2000. O debate se inseria no ciclo de debates organizados no âmbito da celebração dos 30 Anos da Democracia Multipartidária em Moçambique.
Segundo Ofiço, os processos de negociação e reintegração tem negligenciado as mulheres em Moçambique, apesar desta desempenhar diferentes posições na guerrilha, o que agrava a sua situação de vulnerabilidade.
“Haviam mulheres que trabalhavam em sectores militares, chefiavam repartições do Estado-major em vários escalões, na área de comunicações, tínhamos instrutoras militares, tínhamos enfermeiras, tínhamos professoras, além de comissárias políticas, e mais. No entanto, nenhuma de nós foi dada a oportunidade de prosseguir com essas actividades, quer seja nas forças de defesa de Moçambique, quer em outras instituições do Estado”, contestou Ofiço, que foi desmobilizada em 1994, na sequência da assinatura do Acordo Geral da Paz entre a Renamo e o Governo.
Tal situação, segundo explicou a antiga guerrilheira, condenou muitas antigas combatentes ao desemprego. “Nos restava apenas trabalhar na parte política, mas o espaço era tão pouco e a nossa formação não permitia grandes saltos”, declarou.
No entanto, fazendo uma comparação da implementação do DDR no âmbito do Acordo Geral de Paz (AGP) em 1992 e do Acordo de Paz Definitiva assinado em Maputo em Agosto de 2019 entre o Presidente da República, Filipe Nyusi e o líder da Renamo, Ossufo Momade, a ex-guerrilheira da Renamo diz ter notado progressos significativos, embora a um ritmo que não considera ser satisfatório, especialmente por não ter uma abordagem específica ajustada aos interesses das mulheres.
“Todos os desmobilizados responderam um inquérito sobre o que pretendem fazer e foram disponibilizados um aparelho de comunicação, para facilitar o acesso à informação”, explicou a interlocutora, sobre o acordo de paz em vigor no país.
Ofiço lembrou que no processo de 1992, não havia programas alternativos para a inserção das mulheres, visto que só havia um programa na área de corte e costura, área que não era de interesse da maioria destas mulheres. “Às vezes não basta aprender a profissão, é preciso ter paixão pela actividade que se vai exercer, para que se tenha sucesso. Fizemos corte e costura, mas nem todos queríamos. Fizemos por que era o havia para se fazer”.
Mesmo assim, um grande número de ex-guerrilheiras não tiveram acesso à informação sobre as oportunidades disponíveis. “Um dos requisitos (para se beneficiar do programa existente) era ser membro da Associação Moçambicana dos Desmobilizados de Guerra (…). Talvez os que estavam nas vilas é que conseguiram fazer alguma coisa. Os que estavam no interior, quase que não fizeram nada, e lhes restou o trabalho na machamba, produzir e pelo menos alimentar os filhos”.
Mais do que estas limitações, Albertina Ofiço mencionou também falta de fundos, o que fez com que mesmo os que tiveram os apoios, só uma minoria insignificante tenha conseguido progressos assinaláveis durante a vida civil, porque os fundos já eram limitados e não houve acompanhamento suficiente. Desta forma, a ex-guerrilheira defendeu a necessidade de se investir na educação das mulheres.
Na mesma linha de pensamento, a antiga combatente da luta de Libertação Nacional, Lizete Langa, destacou o papel da educação no empoderamento e participação política da mulher. “Foi através da alfabetização que as mulheres mobilizaram outras mulheres no tempo de guerra e depois dela para que ela tivesse a confiança de trabalhar em diferentes áreas e contribuir para o desenvolvimento”, afirmou Langa, acrescentando que depois da luta armada, a mulher continuou a estudar, “daí que hoje temos mulheres deputadas, ministras, em todos os órgãos de soberania e em todos os sectores”.