O Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD) defendeu, esta quinta-feira, em Maputo, a necessidade de acções concertadas e abordagens coordenadas de diferentes actores sociais nacionais sobre uma agenda de reconciliação nacionais, o que contribuirá para que se alcance avanços eficazes nestas matérias.
De acordo com o Director Executivo do IMD, Hermenegildo Mulhovo, para se atingir esse desiderato passa primeiro pelo mapeamento dos actores-chave, para facilitar a operacionalização das acções de coordenação das intervenções de diferentes actores, em diversos níveis para garantir que todos os esforços estejam alinhados e focados em objectivos comuns.
Falando durante o workshop, subordinado ao tema “Boas Práticas e Proposta de Metodologia Comum para a Paz e Reconciliação em Moçambique”, organizado pelo IMD em coordenação com Universidade Pedagógica (UP) de Maputo e o Fundo da Paz, Mulhovo sublinhou que em Moçambique, após anos de conflito e desafios, a busca pela paz e reconciliação continua a ser uma das prioridasdes nacionais.
O evento visava, segundo os organizadores, contribuir para o desenvolvimento de uma metodologia comum para Paz, Reconciliação e Coesão Social, bem como criar bases para estabelecimento de um espaço de diálogo entre os diferentes partes interessadas.
“Nosso workshop pretende contribuir para a consolidação da paz e reconciliação em Moçambique”, disse Mulhovo sublinhando que a presença de todos naquele evento “é uma prova do nosso compromisso colectivo com a construção de um futuro de harmonia e cooperação”.
Para Mulhovo, a colaboração e a coordenação entre todos os stakeholders são vitais para que se possa avançar de forma sustentável e eficaz e, sublinha a premência de construção de um espaço dedicado à construção de novas narrativas sobre paz e reconciliação, “utilizando uma pauta ética e linguagem reconciliatória”.
Para além do mapeamento dos actores, o Director Executivo do IMD defende o arrolamento de elementos legais e institucionais, bem como das percepções dos cidadãos, para alcançar um consenso sobre as iniciativas de paz e reconciliação implementadas em Moçambique, configurando-as como boas práticas.
Na ocasião, o Reitor da Universidade Pedagógica, Jorge Ferrão, disse que a paz e a reconciliação não podem ser alcançadas sem atender às necessidades básicas da população e sem promover um desenvolvimento justo e sustentável e, “em Moçambique, a busca pela paz e reconciliação está profundamente interligada com as condições de vida da nossa população.”
Para o Reitor, a paz não é apenas a ausência de conflito, “mas, também, a presença de justiça social, acesso equitativo a recursos e oportunidades, e um ambiente onde todos os cidadãos podem prosperar. A reconciliação, por sua vez, envolve curar as feridas do passado e construir um futuro baseado na compreensão mútua e no respeito”.
“Em Moçambique, a busca pela paz e reconciliação é um processo complexo e contínuo. Os conflitos internos, profundamente enraizados na nossa sociedade, levantam questões críticas sobre como quebrar os ciclos de violência que têm corroído o tecido social moçambicano”, disse Ferrão para quem este é um desafio que exige um esforço concertado de todas as partes envolvidas.
O Reitor da UP-Maputo disse que a sua instituição, como unidade de ensino e pesquisa, “sente-se profundamente comprometida com a causa da paz e da reconciliação nacional e temos a responsabilidade de investigar e promover caminhos que conduzam a uma paz duradoura e a uma verdadeira reconciliação em Moçambique”.
Por sua vez, o Secretario Permanente do Ministério dos Combatentes, Ibraimo Carimo, explicou que ao longo dos 50 anos da sua Independência, Moçambique atravessou sinuosos períodos em que a paz foi posta de lado para dar lugar ao ressoar das armas que semearam luto, dor, fome e miséria.
A ausência da paz, segundo disse, coloca em causa qualquer projecto de desenvolvimento socioeconómico e mina as aspirações legítimas dos povos de usufruir de direitos essenciais à vida.
“A intervenção do Ministério dos Combatentes situa-se mais a jusante dos processos de paz para garantir a reconciliação nacional e inserção social dos ex-beligerantes, ou simplesmente combatentes no nosso conceito, incluindo aqueles ora abrangidos pelo DDR (Desmobilização, Desarmamento e Reintegração), na qual o nosso Ministério está engajado em acções de integração e desenvolvimento socioeconómico, por via do financiamento de projectos de geração de renda”, disse.
Acrescenta que ainda que intervindo à jusante “acreditamos piamente que a intervenção ao montante é determinante e deve ser corriqueira, no sentido de manter a promover um ambiente de paz, de unidade, de integração e de coesão social, de tal sorte que a via das armas jamais seja colocada como uma mera possibilidade”.
Participaram no workshop sobre Boas Práticas e Proposta de Metodologia Comum para a Paz e Reconciliação em Moçambique”, especialistas sobre a temática, representantes da sociedade civil das províncias de Tete, Manica, Sofala e Cabo Delgado, Organizações da Sociedade Civil baseadas em Maputo, entidades governamentais, partidos políticos, artistas, líderes (comunitárias e religiosas), estudantes e docentes universitários, homens, mulheres, jovens e pessoas com deficiência.
O evento é organizado pelo Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD) em parceria com a Universidade Pedagógica de Maputo e o Fundo de Paz e Reconciliação Nacional, no âmbito da iniciativa “PROPAZ – Cultura de Promoção de Paz, Reconciliação e Coesão Social”, financiado pela União Europeia.