Uma Missão de Mulheres Líderes da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) manifestou a sua solidariedade com as mulheres moçambicanas vítimas de violência pós-eleitoral que se regista desde as eleições de outubro de 2024.
Este sentimento foi expresso nesta terça-feira (01), em Maputo, numa mesa redonda entre aquela Missão da SADC e as Mulheres que participam nos Processos de Paz e na Resolução de Conflitos em Moçambique, sobre o tema “A Liderança das Mulheres na Construção da Paz e na Transformação de Conflitos".
O evento pelo Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD) em parceria com a Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC) e o Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil (Fundação MASC) visa, dentre vários aspectos, concretizar o espírito de unidade, o apoio mútuo e a responsabilidade partilhada na SADC; estimular a participação da mulher na resolução de conflitos e reforçar as redes/acções colaborativas de mulheres ao nível da região, bem como apelar ao fim imediato da violenta agitação política e social e promover o diálogo político inclusivo.
Na ocasião, a Líder da Missão, Gertrudes Mongella, afirmou que pretende colher os momentos vividos por essas mulheres para poder ver se compila políticas de eliminação das violações que ocorrem durante as manifestações pós-eleitorais nos países africanos, sobretudo em Moçambique.
Mongella, que também é Defensora Global dos Direitos da Mulher e de Políticas de Inclusão, disse ser necessário auscultar directamente das mulheres vítimas para melhor elaborar as políticas que defendem as mulheres em conflitos eleitorais no mundo inteiro, particularmente no continente africano.
“Minhas irmãs, é melhor que nós nos unamos para ultrapassar as barreiras criadas durante os conflitos eleitorais no nosso continente. Em muitos países existem eleições e os conflitos e quem mais sofre disso somos nós mulheres e crianças. Então, há uma necessidade de elaborarmos políticas que vão de acordo com o que nós queremos que sejam leis eleitorais em defesa das mulheres e crianças”, disse.
Mongella vincou, igualmente, a premência de prestar apoio psicossocial às mulheres vítimas das manifestações, não escusar o apoio financeiro que deve ser prestado pelo governo, para as mulheres se recomporem diante das dificuldades criadas durante o processo.
Durante o encontro, a líder da Missão auscultou as mulheres que viveram in loco o pulsar das manifestações, no qual ficou entusiasmado pela força aplicada pelas mulheres na recuperação do trauma causado pelas manifestações.
Por seu turno, a activista social, Josina Machel, disse que o país caminha para uma paz duradoira com a Compromisso Político para um Diálogo Nacional Inclusivo, assinado entre os partidos políticos com assento nas Assembleias, da República (AR) provinciais (AP) e municipais (AM).
Afirmou que o Compromisso Político não deve ser apenas de partidos porque Moçambique é feito de outras forças, seja, organizações de sociedade civil, religiões, entidades culturais.
“Eu acredito que hão-de se trazer outras forças sociais para fazer com que o processo de análise, primeiro, seja profundo, para que estas manifestações violentas não se repitam neste país, então, há-de obrigar com que vários grupos e nós como indivíduos temos também que participar e dar a nossa proposta”, disse.
Durante as manifestações, houve bloqueios e incêndios nas estradas e vias de acesso, sobretudo nas vias de circulação intensa de pessoas e bens; invasão e destruição de propriedades públicas, privadas e de particulares; protestos violentos de rua e paralisação geral das actividades do país.
A nível internacional, particularmente na SADC, a situação retraiu e destruiu o investimento de capital estrangeiro e afectou a logística nos portos, aeroportos e fronteiras, em particular as de Ressano Garcia, província meridional de Maputo, e Machipanda, província de Manica, centro.
Atualmente, o Presidente da República, Daniel Chapo, lidera o Compromisso do Diálogo com sete partidos assinantes do documento, que incluem conversações com o segundo candidato mais votado nas eleições presidenciais, Venâncio Mondlane.
De acordo com os participantes no encontro havido esta terça-feira, a participação e a liderança das mulheres devem ser reconhecidas e aceites como nucleares para a construção da paz e segurança efectivas, integrando a dimensão da igualdade de género em todos os níveis de decisão, no espírito da Resolução 13-25, do Conselho de Segurança das Nações Unidas, de que Moçambique é signatário, e demais instrumentos normativos nacionais e internacionais.
Esta quarta-feira a Missão de Mulheres Líderes da SADC será recebida pelo Presidente da República, Daniel Francisco Chapo e manterá encontros com as Ministras dos Negócios Estrangeiros e Cooperação e do Trabalho, Género e Ação Social, Maria dos Santos Lucas e Ivete Alane, respectivamente.
A realização desta actividade decorre no âmbito do programa PROPAZ, implementado pelo IMD com o financiamento da Delegação da União Europeia em Moçambique.